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Estilhaços

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Introdução






Com este blog pretendemos revelar o processo criativo da curta-metragem “Estilhaços” em 10 fases, que publicaremos ao longo das próximas semanas.

O projeto iniciou-se em 2011, entrou em produção em 2014 e concluiu-se em 2016.

Todo o processo de produção foi desenvolvido por uma equipa de aproximadamente 15 pessoas que trabalharam intensamente ao longo de 1 ano e meio em Montemor-o-Novo.

Apesar da narrativa se ter mantido idêntica ao longo deste tempo, todo o processo de criação do corpo do filme foi muito dinâmico cruzando diversas técnicas de animação,  estilos gráficos e a sua  relação com a imagem real, trabalhando a  continuidade / descontinuidade das cenas com saltos temporais e a relação minimal com a banda sonora.





Na próxima semana publicaremos o capitulo "Origens" onde falaremos da pesquisa, da criação do guião e dos primeiros desenhos.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

PESQUISA


Este filme é construído a partir da analise de textos, imagens e vídeos da guerra colonial Portuguesa com especial foco na Guiné Bissau, de relatos de filhos de ex-combatentes e da minha experiência pessoal enquanto filho de um ex-combatente.



O video acima, realizado por uma equipa de jornalistas franceses na Guiné Bissau, permitiu-me entrar nessa guerra numa escala humana. A filmagem casual de uma emboscada revela o realismo silencioso e brutal desta guerra que nada tem de espectacular.




NOTÍCIAS



Com a publicação da tese de mestrado de Susana Martinho Oliveira, sobre a Traumatização secundária das familias dos ex-combatentes da guerra colonial com PSPT (Perturbação de Stress Pós-Traumatico), a análise das consequências da Guerra Colonial na sociedade portuguesa ganha outra dimensão.

Abaixo deixo os links de alguns artigos que influenciaram todo o trabalho de desenvolvimento do projecto.




Susana Martinho de Oliveira - MESTRADO EM PSICOLOGIA
Área de Especialização em Stress e Bem-Estar - 2008 )


"Mulheres e filhos também sofrem de stress de guerra"

( Jornal Publico - 08/11/2009)


domingo, 24 de janeiro de 2016

PROJECTO INICIAL




O PROCESSO CRIATIVO

Ao contrario dos filmes anteriores, a criação deste projecto nasce com a escrita do guião que acabaria por me ligar mais à criaçao da narrativa em deterimento da criaçao grafica.
Tópicos escritos em pequenos pedaços de papel espalhados pelo chão da sala foram ligando fragmentos de 4 histórias, 4 momentos e 4 locais num processo criativo muito expontâneo e livre.



SINOPSE

Este é um filme sobre a forma como a Guerra se instala no corpo das pessoas que a vivem olhos nos olhos. E, depois, a milhares de quilómetros e dezenas de anos decorridos, contamina, como um vírus, outros seres humanos.   



EXCERTO DO GUIÃO


EXCERTO DO STORYBOARD



MENSAGEM ESCRITA FINAL

No projecto inicial o filme terminava com esta mensagem que seria exibida imediatamente antes do genérico final
Depois do filme finalizado, decidi retirar esta informação porque, apesar da sua importância, considero que ela era redutora e influenciaria um olhar mais livre sobre o filme.




DESENHOS INICIAIS

 
   

Os estudos que acabaram de ver estão ainda numa fase embrionária, mas continham já o essencial das características físicas das personagens e da exploração técnica do filme.

sábado, 23 de janeiro de 2016

GRAFISMO PERSONAGENS



A pré-produção inicia-se com o desenvolvimento das personagens e grafismo do filme a partir dos desenhos do projecto inicial. Uma vez que as duas personagens principais (Pai e Filho) apareciam com idades e roupas diferentes era necessário encontrar traços físicos singulares e bem definidos que nos permitissem uma clara e rápida identificação visual em qualquer momento da narrativa. 



MÁRIO


ADULTO
Primeiros estudos

Este personagem é desenvolvido a partir dos traços físicos do actor Hugo Sovelas que aparece no final do filme. Os primeiros estudos ainda estão muito colados à imagem fotográfica do actor.




A partir daqui o desenho da personagem ganha uma simplificação geométrica e autonomiza-se da referência fotográfica do actor. Podemos avançar com o "turn around".

Estudos finais





CRIANÇA


A pesquisa gráfica do Mário criança foi demorada para encontrar a boa relação de proporcionalidade corpo / cabeça e ao mesmo tempo manter um desenho de geométrico próximo do Mário adulto sem perder as características físicas de uma criança de 6 anos.





Uma vez que esta personagem aparecia apenas em 5 planos do filme decidimos avançar com os estudos gráficos directamente sobre os cenários e com os enquadramentos previstos. As sombras própria e projectada desempenham um papel importante na integração do personagem  no cenário mas acima de tudo na caracterização da personagem e instalação de um momento emocional intenso.



PAI

Novo

O rosto do pai assenta  num paralelepípedo de faces bem definidas de onde emerge um nariz singular que ajudará o espectador a seguir este soldado no meio dos restantes 5, mesmo nos momentos em que a sombra das árvores os reduzem a silhuetas.






Velho


O desenvolvimento gráfico do pai velho parte dos estudos anteriores. Uma vez mais, a sombra própria ajuda a definir a volumetria da cabeça e contribui para a caracterização desta personagem.



A animação dos "turn around" de Mário e do Pai foram decisivas na compreensão do volume, comportamento da luz e representação gráfica e tornaram-se ferramentas essenciais de trabalho para toda a equipa nas fases seguintes.





Soldados

A pesquisa gráfica dos soldados tinha por objectivo a criação de uma linha gráfica coerente com as personagens principais que permitissem ainda uma leitura em silhueta.
Cabeças pequenas que se relacionam com corpos possantes e ágeis.



~


A animação e pintura dos camuflados levou a equipa ao limiteeeee:
 6 soldados + 6 sombras próprias + 6 x nº manchas dos camuflados
 desenhadas, animadas, intercaladas e pintadas.
ufffffffaaaaa!!!


Adeptos

Apesar de secundários, os adeptos têm um papel importante no inicio do filme e isso exigiu um trabalho detalhado dos rostos.







Condutor do carro da frente




Finalizada esta fase de desenvolvimento gráfico realizada maioritariamente pelo Alexandre Pinto e Samuel Alves, estávamos em condições de avançar para a fase seguinte: o layout.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

GRAFISMO - CENÁRIOS



Antes de entrar no Layout foi preciso encontrar a justa relação das personagens, já definidas, com os cenários e descobrir  o universo gráfico do filme.
A criação dos cenários partiu de montagens fotográficas do REAL, que tem uma grande importância neste filme pela relação pessoal que estas personagens establecem com essa realidade  e depois a solidificam na memória. O trabalho plástico digital,  desenvolvido por Barbara Oliveira, sobre essas montagens acabou por ter um papel fundamental na definição de uma linguagem gráfica espessa e original onde o contorno das personagens se tornou desnecessário. 

Acidente

Olá! Eu sou a Bárbara. Só para vos contextualizar, este foi o meu primeiro trabalho profissional - por isso a viagem à procura do grafismo destes cenários foi também uma viagem de aprendizagem para mim.
Este momento do acidente foi dos primeiros cenários em que trabalhei.
Inicialmente, como o grafismo não estava definido, comecei a fazer experiências com vários estilos de pintura - o Zé queria que esta cidade fosse desconstruída e não uma representação realista de uma cidade. Digitalmente, comecei por fazer várias experiências (algumas mirabolantes!).



No entanto, nestes testes, faltava a realidade que estava presente no conceito do filme - a imagem real. Comecei então a integrar fotografias no cenário e a forma como comecei a fazê-lo foi a seguir o conselho do Zé - "Pega na tesoura e diverte-te!".
Este foi o momento em que comecei a sentir-me mais confiante , porque foi muito estimulante "cortar e colar" as fotografias que tinha e criar um mundo novo.
Usei a pintura nestes testes, como se esta estivesse a cobrir a realidade por baixo.




O resultado final desta viagem foi um intermédio entre pintura e fotografia.
A nossa realidade ficou a existir nesta cidade mas de uma forma fracturada e remendada com pintura, formando assim o grafismo da cidade do Estilhaços.


Interior do Carro

O interior do carro foi o primeiro cenário em que trabalhei.
Esta fase foi importante para encontrar o meu método de trabalho mais eficiente.


Podem ver aqui um teste que fiz com acrílico - pintei tradicionalmente uma folha de acetato e digitalizei para fazer a montagem digital. No entanto esta forma de trabalhar não era ideal para mim porque senti-me limitada dentro das experiências que podia fazer.
Voltei então para o digital e o Zé desafiou-me a fazer várias propostas de ideias que eu tivesse, de uma forma muito esboçada para no final podermos decidir qual delas trabalharia mais detalhadamente.
Este método fez com que eu perdesse o receio de trabalhar de forma imediata.




O resto do processo para encontrar o grafismo do interior do carro foi como o exemplo que vos apresentei antes - cortar, colar e pintar!



Guiné-Bissau

O processo de criação gráfica da Guiné-Bissau foi muito diferente do processo da cidade.
O ambiente gráfico da floresta tinha que ser distinto da cidade onde eles viviam.
Em conversa com o Zé, chegamos à conclusão que este ambiente não iria ter fotografias, apenas pintura para retratar a memória do pai do Mário.
Comecei então por fazer testes a preto e branco, porque para mim era mais fácil pensar nos elementos que compunham o cenário em silhuetas e direccionar o espectador com a luz, para as áreas mais importantes da acção.





A floresta começou por ter cores quentes, mas essa imagem puxava muito a atenção para o ambiente, tornando-o um pouco pitoresco quando procurávamos um ambiente mais misterioso.
Lembrando-me das vezes em que estive em florestas densas comecei a fazer testes com cores mais frias, indo assim também de encontro com as florestas húmidas e chuvosas da Guiné-Bissau.





Agora sim, o capítulo do grafismo está fechado. Vamos iniciar a fase de produção do filme com o Layout.