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Estilhaços

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

ARTE FINAL



Evolução da cor ao longo do filme

Depois de vos ter falado dos cenários, venho agora apresentar um pouco do processo da arte final do filme Estilhaços, juntamente com o David e o Igor.
Começamos o capítulo com este colorscript em esboçoque fiz quando comecei a trabalhar nos cenários - com este estudo, foi possível perceber se as ideias que eu tinha em relação à cor, estavam de acordo com as intenções do Zé para cada momento da história. Apesar de as cores terem ficado diferentes no filme final, esta primeira proposta deu-me uma direcção para o desenvolvimento dos cenários que vos apresentei no capítulo dos grafismos.




Assim este foi o nosso primeiro passo para descobrirmos a arte final do filme.


Pintura e Integração 


Plano 23

Ola Eu Sou o David Silva e fiquei responsável pela parte de pintura base dos personagens da curta.
Depois de várias experiências e vários testes de pintura chegamos à conclusão que o melhor método seria utilizar a extensão para Photoshop animcouleur,  que nos permitia avançar rápido na pintura da superfície, mas que exigia grande rigor nos acabamentos que se tornavam visíveis quando, no final, retirávamos o contorno. 



Para isso seguimos o seguinte método:

  1. Identificar frame a frame se a linha do personagem animado tem interrupções, e fecha-las para que a selecção posterior seja mais fácil e rápida.
  2. Pintar com cor base todos os frames (normalmente o tom de pele do personagem), esta tem de ficar o mais perfeito possível pois serve de base para as outras cores.
  3. Pintar por camadas todas as cores restantes, utilizando para isso layers diferentes para cada cor, e usando mascaras que nos permitem incorporar as novas layers na layer de cor base (como referido no ponto anterior)
  4. Visualizar a animação e retocar sempre que possível para anular qualquer vibração secundária.
  5. Com o mesmo método de máscaras adicionar a layer final de sombra que define o volume.
  6. Sabendo que a linha é quase toda removida, é o momento de decidir onde fica, utilizando novamente máscaras que nos permitem esconder a maior parte dela, deixando-a na maior parte das vezes na cara mãos



Apesar dos bons resultados, este método acabaria por se revelar extremamente demorado  pois tínhamos de pintar frame a frame cada cor utilizada. No exemplo acima o contorno foi completamente retirado uma vez que o plano é afastado. Na imagem que segue abaixo podem verificar que o contorno foi deixado nos olhos nariz e boca da criança que aparece em grande plano.


Integração de Personagens 



Daqui é a Bárbara novamente!
Desta vez venho falar-vos do trabalho de integração que desenvolvi na fase final do filme. Depois dos personagens terem a sua pintura base plana, criei as texturas e volumes para cada um deles que permitiam uma melhor ligação com grafismo dos cenários. De seguida animávamos as texturas , numa video layer no Photoshop, para elas acompanharem o movimento dos personagens.
Este processo apesar de ser um pouco tedioso, era importante para as texturas parecerem naturais e não serem uma camada estática por cima da animação.


 

Quando tínhamos personagens perto da camera, colocava textura também na sua sombra. 
Esta diferença (quando os personagens estão perto têm mais detalhe e quando se afastam perdem) tinha o propósito de aumentar a sensação de profundidade no filme.
A textura também era animada de acordo com a animação de origem, com o cuidado de se manter discreta para não desviar o foco de atenção do espectador que deve estar centrado na personagem e não no efeito.

Por fim, juntava os personagens ao cenário, onde dava os últimos retoques no mesmo como escurecer zonas menos importantes na imagem, fazer acertos de cor e desfoques se fosse necessário.

Quando terminava esta fase, exportávamos os personagens e os cenários separados para passar à pós-produção.

Plano 97


Este plano é um bom exemplo da nossa aventura à procura da imagem final.
Inicialmente, tínhamos planeado a imagem deste plano para que esta fosse igual a todo o grafismo da floresta até então. O maior desafio que eu tinha na altura era construir um cenário grande para sustentar o movimento da câmera nesta corrida.



No entanto, com o avançar da produção, os recortes de imagem real começaram a entrar no filme e a assumir a representação da memória viva que o pai do Mário conservava daquele dia trágico. Esta descoberta levou, inicialmente, à necessidade de ajustar as cores base dos personagens para que a imagem real estivesse mais integrada com a pintura.




Mas a aventura ainda não tinha acabado por aqui.
Começamos a sentir que nesta fase do filme, a floresta onde os personagens se encontravam precisava de sofrer uma mudança, depois de tudo o que tinha acontecido.
Inspirada pelo papel que o chão vermelho sempre teve nesta floresta e com a aprovação do Zé, substitui todas as cores da floresta por vermelho.
Esta mudança de ambiente, reflectiu-se também nos personagens que passaram a alto contraste.
Depois de algumas sombras projectadas e de o Igor animar o cenário, encontramos o nosso plano!





Pós-Produção


Olá mais uma vez sou o Igor Estêvão, para além de animador assumi, na fase final, a função de pós-produtor. Sendo esta a fase final de trabalho, necessitava de uma atenção reforçada, e para o conseguir trabalhava em conjunto com a responsável pela direcção de arte e com o realizador. Para conseguir a integração final das personagens nos cenários e concentrar a atenção do espectador em pontos especificos, adiccionava minusculos desfoques ou sombreados sobre alguns elementos visuais.



Quando o plano chega a pós-produção, vem partido em partes idealizadas no layout e na criação gráfica, ou seja, neste plano em especifico 11 personagens, 3 carros , 3 partes de cenário, 1 fumo e uma chuva. 
Comecei por compor os personagens e aplicar devidas mascaras para garantir a correcta sobreposição de cada um. 



Depois adicionei a chuva e multipliquei várias vezes em várias escalas para construir um espaço tridimensional bem preenchido, e de seguida apliquei um filtro, que já tinha definido na pesquisa gráfica inicial, para realçar as cores.



Por fim coloquei o cenário e iniciei a respectiva integração desenvolvendo a ideia de um espaço tridimensional com elementos em primeiro plano  e segundo plano ligeiramente desfocados destacando pelo foco, o pai do Mário no meio daquele grupo de desconhecidos. 
Por fim adicionei a luz do farol do carro da frente e as respectivas mascaras para que a chuva fosse mais visível dentro dessa área e adicionei\integrei o fumo na luz do carro que está em primeiro plano.

Plano 23


Neste plano o realizador pretendia que a câmara se afastasse enquanto o primeiro plano escurecia para a multidão ficar unida numa enorme silhueta preta ao mesmo tempo que o plano de fundo ganhava luz destacando ainda mais essa silhueta. A Barbara Oliveira criou varias imagens do mesmo  cenário progressivamente mais claras sem perder o contraste e a profundidade de cor. Com base nestas imagens, comecei por compor todos os personagens e respectivas mascaras para que estes se interligassem, de seguida inseri o cenário de fundo e fiz as transições entre as várias propostas de luz  para encontrar o ritmo certo. Com estes tempos definidos, comecei então a criar o movimento de câmara.





Com muitos ajustes e modificações de tempos chegámos finalmente ao resultado final. Foi um trabalho de muita cooperação entre todos, e posso dizer que o espaço que encontrei para contribuir criativamente para a criação deste filme fez deste trabalho uma experiência inigualável.

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